Daqui a 10 anos, será que vamos ouvir falar da Marta?
- Gláucio Azefe
- 3 de out. de 2018
- 3 min de leitura

Nós, brasileiros, nos orgulhamos do rei do futebol ter nascido aqui, numa cidadezinha do interior de Minas. Contudo, esquecemos de olhar com carinho para a maior jogadora da história do futebol feminino. Sim, estou falando da Marta. Se alguém ousar dizer perto de mim que ela não é, vai ouvir que eu tenho orgulho de ter nascido no mesmo pedacinho de mundo que Ela.
Nem sempre fui um apreciador do futebol feminino. Aliás, cresci ouvindo que futebol é esporte para homens, o que, no mínimo, é uma falácia monstruosa, além de um preconceito inadmissível. Mas Ela - uso no maiúsculo sim e não vem com essa de imparcialidade para cima de mim - me fez entender que o futebol feminino é maior do que todos pensam.
Em um mundo machista, o futebol feminino é maior do que ele “deveria” ser. Sem o mesmo investimento, apelo mercadológico e interesse da mídia, ele sobrevive e produz um espetáculo dentro de campo, muitas vezes, mais emocionante do que esperamos dele.
O futebol feminino é ofensivo, alegre, pra frente, dinâmico e muito menos pragmático do que esses ferrolhos que vimos na Copa do Mundo. E deveria ser mais respeitado e, com certeza, preterido pelos canais esportivos no lugar do “fortíssimo” Campeonato Brasileiro da Série B, onde podemos ver o “potente” Oeste enfrentar o “grandíssimo” Cuiabá, numa terça à noite - tenha dó! Existe espaço para todos, basta boa vontade.
No dia 24 de setembro, vimos nossa camisa 10 ganhar seu sexto título de melhor jogadora do mundo - e chorar como se fosse o primeiro. O prêmio foi entregue pela FIFA, em Londres. E o que ouvimos a respeito? Que o Luka Modric, capitão e camisa 10 da vice-campeã do mundo, Croácia, camisa 10 do Real Madrid, tricampeão da Champions League, merecia ganhar o prêmio. Sem desmerecer o Luka - mas eu sou brasileiro, nasci na terra de Pelé, Garrincha, Zico, Sócrates, Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e MARTA – não vou ficar comentando se ele merecia ou não.
Vou celebrar a vitória da rainha e comemorar um feito histórico: o sexto prêmio entregue em Londres. Ela se tornou a maior ganhadora da história do prêmio - chupa Messi! O Cristiano Ronaldo é muito lindo – já disse se quiser imparcialidade está lendo a crônica errada. Mas os dois tiveram cinco títulos cada.
Há quem diga que a Marta nunca ganhou uma copa do mundo, portanto, não merecia estar na mesma mesa que Pelé e companhia. Entretanto, se não fosse por ela, a seleção feminina não teria conquistado duas medalhas olímpicas de prata, duas medalhas de ouro e duas de prata em Pan-Americanos, um vice-campeonato mundial (2007), e três copas américa – a última em 2018, três meses antes de lamentarmos o fato do Fernandinho não ter parado o contra-ataque da Bélgica. Além disso, Marta é a maior artilheira da história da seleção - masculina e feminina - com mais de 100 gols.
Ela também é a maior artilheira da história da copa do mundo feminina, com 15 gols. No masculino, esse título já pertenceu a um brasileiro, o Ronaldo Nazário de Lima, o nosso Fenômeno. Mas hoje pertence ao ex-atacante da seleção alemã, Miroslav Klose, que atingiu a marca de 16 gols, um a mais que o nosso ex-camisa 9. E ele atingiu essa marca justamente em um jogo contra o Brasil, na Copa de 2014 - e não preciso nem dizer em quanto acabou aquele jogo.
Pois é, meus amigos, estamos vendo a história ser escrita e não damos a devida atenção a ela. Devemos parar de canonizar ídolos nascidos na Ilha da Madeira e começar a dar mais valor para uma alagoana que está desfilando seu fino futebol pelo mundo.
Eu não vi o esquadrão de 70 encantar o mundo, não vi o fiasco de 82, e ainda hoje ouço falar deles. Contudo, quero e vou contar aos meus netos que vi uma canhota, de cabelo preso, entortar a marcação norte-americana e marcar um golaço com a camisa 10 da seleção, sem sofrimento por ter deixado a história passar diante dos meus olhos.
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