(Re)começo?
- Gláucio Azefe
- 21 de set. de 2018
- 3 min de leitura

Talvez só agora eu tenha digerido o que aconteceu. O “adeus”, tão amargo, foi engolido. Em meio ao caos de 2016, ela foi meu ponto de apoio, minha viga de sustentação durante a pior crise da minha vida. É a primeira vez que falo e escrevo sobre ela. Nunca o fiz por achar que cada palavra não seria suficiente para representa-la. Mas preciso pôr para fora, de algum jeito, tudo que aconteceu.
Éramos só nós dois, despidos de vergonha ou de qualquer impedimento. Frente a frente, olhando um nos olhos do outro. Ela chorava, aquilo me queimava. Eu só pensava: “Nem assim ela deixa de ser linda”.
Eu sabia que aquele era o fim. Tentei argumentar para que não fosse, mas ela já tinha tomado uma decisão, e escolheu o caminho mais seguro, porém difícil de ser trilhado: o adeus. Ele veio frio, afiado e sem anestesia. E, mais uma vez, eu estava sozinho, sem chão, querendo trancar a porta para que ela não fosse embora.
Mas já era tarde. Seus olhos, vermelhos, de choro, e castanhos, por beleza, já diziam que ela não estava mais ali. Para ela, aquele adeus já havia sido dado há muito, porém, não havia sido dito. E, agora, tinha chegado a hora disso acontecer. Como todo capítulo dessa jornada, não sei, ao certo, se chegou ao fim. Mas, com certeza, essa nordestina, ruiva, de olhos castanhos e sorriso destruidor, jamais perderá seu lugar no meu coração.
Hoje, 1 ano, 8 meses e 14 dias depois, ela ainda está aqui - não só em meu coração, mas também em minha cabeça. Contudo, muita coisa mudou nesse tempo. O cabelo, deixou de ser médio e ruivo e passou a ser curto e negro. Ela se formou e agora é instrutora de dança. Mas e eu? Não mudei? Sim. Mudei, aprendi e vivi a experiência mais intensa da minha vida: me casei.
Pois é, nesse curto tempo eu encontrei alguém para dividir a vida, sendo assim, por que estou escrevendo um texto sobre uma mulher que passou pela minha vida? Porque eu também me separei. Sim, tudo isso aconteceu. Tudo bem, mas e agora? O que tem a ver uma menina com quem você se relacionou há quase dois anos? Tudo. E vou explicar o porquê.
Por um tempo, no meu casamento, eu aceitei o fato de estar ali, vivendo aquilo, e tê-la no meu coração. Mas essa não deve ser a maneira que se constrói uma relação com alguém. Então, o inevitável fim chegou. Não que a Ariana, vamos chamá-la assim, teve algo a ver com o fim do meu casamento, mas a lembrança dela sempre pairou sobre minha cabeça.
E o que fazer agora? Devo chamá-la para sair? Devo me reaproximar? Ou devo viver a minha vida com esse sentimento e fingir que ele não existe? De fato, não sei o que fazer. Existe uma coisa que me afasta dela, um simples sentimento, essencial a todos e tão natural quanto o nascer do sol: o medo.
O medo é capaz de fazer com que uma pessoa tão corajosa quanto eu seja tirada dos eixos. Mas existe uma razão para esse medo ou é assim que meu subconsciente quer que eu pense. Afinal, desde tempos longínquos somos programados para evitar nosso sofrimento. E é assim que eu me sinto, tentando evitar sentir a dor que um dia eu senti por causa dela.
Mas e se eu mandar uma mensagem, que mal teria? Pois é, aí é que está, eu não sei por onde começar. Não sei se ainda há abertura para que eu possa chamá-la para conversar e não sei por onde começar essa conversa.
Existem 100 empecilhos para que eu não a procure de novo, para que eu a esqueça e viva a minha vida. Mas existe um motivo pelo qual devo procurá-la, preciso pôr um fim a isso. Esse medo só me mostra que esse sentimento, que ainda existe em mim, precisa de um ponto final. Para o bem ou para o mal, precisa de um fim.
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