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Sambista Jaci Temoteo fala sobre sua trajetória e seu mais novo trabalho

  • Rodrigo Jardim
  • 27 de jun. de 2018
  • 15 min de leitura

Estivemos com o cantor, compositor, geofísico e professor, Jaci Temoteo. Jaci Temoteo nasceu no Rio de Janeiro em 19 de novembro de 1955. Geofísico de profissão, trabalha na Petrobrás e dá aulas na Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora. Desenvolve o lado artístico como compositor, violonista, cantor e panderista, atuando com o Samba e Choro. Nesse bate papo, pudemos conhecer um pouco mais sua relação com a música, carreira, e claro, seu disco Sambaleante.

FOTO: YouTube

Fale para nós, quem é o Jaci Temoteo?

Em termos de música, o Jaci Temoteo é um cara que vive buscando compor. Hoje em dia me descobri com uma veia musical para vir compondo melodias, então eu passo o meu tempo buscando achar melodias diferentes para o meu trabalho.

Como a música surgiu na sua vida?

Eu era adolescente, em rodas de amigos, viagem de férias com meus amigos e íamos todos para a mesma casa em Itacuruçá, na região da zona verde para o lado de Mangaratiba e íamos para lá e tinha muita roda de violão.

Eu inicialmente toquei pandeiro, do pandeiro vi o violão, que era interessante começar a tocar. Aí começa a ensinar um acorde, ensinar outro (acorde) e daí a coisa veio deslanchando para o violão e para a voz também, porque era um dos que cantavam no grupo.

Quais são suas referências, aqueles que você tem como inspiração para compor?

Em geral eu busco sambistas da velha guarda: Nelson Cavaquinho que eu cheguei a conhecer, Cartola, Guilherme de Brito, Nei Lopes, que é um excelente compositor, Wilson Moreira, Monarco. São compositores de várias agremiações de samba que eu comecei a me inspirar nessa forma de compor e hoje também, tenho observado novos compositores. Há uma safra muito grande de novos compositores que eu tenho acompanhado.

Você é professor, dá aula na FSMA e trabalha na Petrobrás. Como consegue conciliar com a rotina de shows?

É difícil. É por isso que os shows têm ficado bem reduzidos, mas por isso eu uso a estratégia da seguinte forma: quando eu consigo fechar um show, quero fazer um show extremamente produzido. Porque aí eu trago músicos convidados, músicos do Rio de Janeiros e eu fico atento a projetos que acontecem, como o Sesi, por exemplo. Eu consegui uma turnê pelo Sesi, que a gente fez: Sesi Macaé, Sesi Campos e Sesi Itaperuna. Aí converso com meu chefe na Petrobrás, na faculdade eu digo que vou repor as aulas, se for meu dia de dar aula e parto para o projeto nesses dias. Fizemos essas três cidades de quinta até o sábado e aí levei uma banda comigo. Foi muito bom.

Você morou por um tempo em Vitória, onde lançou seu primeiro CD instrumental "Choro de Vitória". Fale para nós sobre esse período.

Foi um período extremamente interessante. Eu sou geólogo de formação, trabalhava em Petrópolis e morava no Rio de Janeiro e já estava desgostoso com isso e comecei a enviar currículo para vários lugares e surgiu uma oportunidade de trabalho em Vitória como Geólogo. Mudei com minha família para Vitória para passar um ano e simplesmente guardei meus instrumentos em cima do armário, porque o objetivo lá era trabalhar só com geologia.

Minha mulher sempre foi muito ativa e começou a sair e conhecer as pessoas na cidade nova em que estávamos. Numa noite quando ela retornou e me acordou dizendo assim: “achei um conjunto aqui em Vitória que é a sua cara. Tem o mesmo repertório que você canta, tem tudo, parece que você estava lá cantando”. Eu falei: “Mentira!”. Ela continuou: “É verdade! E eu já combinei com eles, querem te conhecer. Daqui a vinte dias eles vão fazer um novo show e querem te ver lá”. Assim foi. Vinte dias depois fui com ela ao show e chegando lá, o pessoal me viu, já sabiam quem era eu e de imediato me chamaram para o palco. Porque realmente o repertório batia com o que a gente fazia. “Você não quer tocar um pouco de pandeiro aqui com a gente? Eu sei que você toca pandeiro”, me perguntaram. Então comecei a tocar pandeiro, acabou o show e começamos a conversar e disseram: “Olha vamos ter uma reunião aqui, um encontro acolá”. E eu comecei a acompanhá-los nos shows como expectador. Um dia um dos membros do conjunto ficou impedido de participar, por motivo de trabalho e me convidaram para entrar no conjunto para suprir aquele elemento. Aí beleza, entrei no conjunto, voltei a tocar por lá e na época, Altamiro Carrilho, que é um excelente flautista brasileiro já falecido, começou a ir a Vitória fazer shows e o conjunto que ele escolhia para acompanhá-lo era o nosso conjunto, que se chamava H2O. Um tempo depois ele falou: “Vocês já estão prontos para gravar um disco de chorinho”. Nós não queríamos e ele insistiu: “Mas vocês têm que gravar, tem que registrar essa informação”. Então partimos para o registro do disco e gravamos um disco com 12 faixas, 3 mil cópias que hoje em dia está totalmente esgotado. Foi um espetáculo. Novamente, ao final disso, quando foi em 2004, já tinha passado em um concurso da Petrobrás, vim lotado para Macaé, já é uma nova história.

A música "Luz de vela" foi seu primeiro sucesso? Fale um pouco sobre essa composição.

É uma história também magnífica. Já estava aqui em Macaé e novamente, não conhecia ninguém na cidade. Um belo dia, minha filha, comentando com o professor que o pai dela tocava e o professor, aqui do Castelo (ela estudava aqui no segundo grau), falou assim: “tem um encontro de músicos aos sábados, chamado Confraria, Samba, Choro e Poesia, leva seu pai lá, já que ele gosta”. Fui lá um dia e estou até hoje. Isso foi em 2006, mais ou menos e comecei a frequentar, os sábados que eu posso ir, eu vou. Essa confraria ela é meio itinerante porque, às vezes, começa em um bar e já mudou por diversos bares e, hoje em dia, ela está na academia de capoeira Raízes de Aruanda do Mestre Dengo. E nessa confraria, conheço vários músicos, tem um grupo de amigos que se reúne aos sábados sem compromisso, cada um leva seu instrumento e tocamos juntos. Não tem obrigação de ensaio, lembra de uma música canta, toca e por aí vai.

Lá tem excelentes letristas, excelentes compositores e num belo dia, o Ivan Barboza me enviou uma letra com uma parte do samba, que era a Luz de vela. Eu fiquei tão empolgado que escrevi para ele: “por favor, me deixa colocar uma terceira parte desse samba”. Ele disse para eu ficar à vontade, escrevi a terceira parte e comecei a cantá-la no grupo e pouco tempo depois surgiu o festival do Sesi aqui em Macaé. Nos inscrevemos no Sesi, fomos classificados como composição autoral em segundo lugar, para irmos a uma final no Rio de Janeiro. Eles classificaram três composições autorais e três interpretações. Então foram seis candidatos de Macaé, não só Macaé, era região norte-noroeste do estado, mas o centro do festival foi aqui (Macaé). E a região sul e metropolitana foi no Rio de Janeiro e classificaram mais seis de lá. Os 12 fomos ao Rio de Janeiro para a grande final do estadual. Chegamos lá com grandes compositores no juri e eu tive a honra de ser classificado em primeiro lugar. Uma festa danada, tinha um cachê legal, uma maravilha. Só que tanto o intérprete quanto o autor da composição que ganhou o primeiro lugar vão participar da final nacional em Belo Horizonte com 27 estados. Então seriam 27 composições autorais e 27 interpretações. Fui eu e a intérprete, defendemos a música, tinha que ter o mesmo arranjo que fizemos aqui no Rio, lá. Já tinha uma banda esperando a gente. Foi um festival com uma produção, uma grande organização, porque eram 54 candidatos, tudo separado em 3 dias de semifinais e depois uma grande final. No jurado tinha Leny Andrade, Leo Gandelman, Eduardo Zack e outros. No final, Luz de Vela é campeã do festival. Aí a coisa estourou, todo mundo no Brasil começou a falar, porque os 27 Sesis (participantes) reportaram, muita gente comentou em Macaé, saiu no jornal, nas rádios, saiu na própria Petrobrás: “nosso funcionário ganhou um festival”. Maravilhoso.

Isso me motivou a continuar compondo, a partir daí. Até porquê Eduardo Zack e Leo Gandelman, num momento da premiação, teve um coquetel, um jantar maravilhoso, eles disseram que queriam conhecer “aquele autor daquela música”. Aí eu fui com a produção do festival até a sala deles e eles disseram assim: “Nós queríamos te dizer uma coisa. Nós não sabíamos que Macaé fazia um samba com essa qualidade. Agora, você preste bem atenção no que nós vamos te dizer. Pode não acontecer hoje, mas seu samba vai acontecer e com essa qualidade vai acontecer muito bem. O importante é você continuar compondo”. E eu só tinha esse samba na época, porque isso foi em 2010. Voltei para Macaé e falei com o Ivan: “Ivan, olha o que os caras disseram para a gente. Disseram que estamos com uma qualidade sonora e musical bem melhor que a média brasileira. Olha que somos desconhecidos. E aí, vamos continuar compondo?”. Aí que a minha vontade de fazer melodia começou a surgir. Como o Ivan é um excelente letrista, você vai poder observar nesse disco aqui (Sambaleante), eu comecei a jogar numa “zona de conforto”. Eu vou buscar fazer as melodias. Tenho feito diversas melodias e envio para ele (Ivan). O Ivan tem uma conexão comigo, que eu falo assim com ele: “O que você está dizendo nessa letra, às vezes é uma história minha, que eu nem te contei”. Ele responde: “É que você me manda a letra envelopada de uma forma que você não vê. Por dentro da melodia que você me manda”. Quando eu ouço a melodia uma vez, duas vezes, ele me diz: “Ele está querendo me falar sobre isso”. Meio que psicografa a história, é impressionante. Até depois posso te pontuar algum dos cenários.

Eu costumo caminhar na praia do Pecado cedinho. Estou fazendo a minha caminhada e ao longo das árvores começam a ter alguns bem-te-vis. Eu andando vi um bem-te-vi e eu os acompanhando, digo: “Rapaz, esses bem-te-vis estão me cantando uma melodia”. Aí eu fui para casa, peguei o violão e comecei a tentar reproduzir aquela ideia. E vou fazendo a melodia assim, quando eu acho que a melodia está com “corpo”, que ainda terão repetições, arranjos, mas o “corpo” está aqui. Aí eu gravo e envio para ele (Ivan), sem falar nada, nem onde eu estava. Passado um tempo, ele me envia assim: “Linda manhã, céu azul, sol saindo do mar. Toda gota de orvalho a brilhar. Faz lembrar um certo olhar, um alguém. Lembro de você, a dizer éramos nós, mais ninguém. Nosso amor tanta emoção, nosso bem. Quanta coisa a gente diz sem pensar. E o bem-te-vi. Diz me viu sem contar onde foi. Voa dali procurando outro para apontar, também te vi”. Aí eu falei: “Não é possível, esse cara está me vendo, me acompanha e tal”. Já gostei dessa ideia. Em cima disso você vai e manda outra com outro tema, outras ideias e ele vai criando os temas.

Ao final de 2011 a gente já tinha 10 ou 12 músicas já prontas. Aí começa a vir a vontade “o que vamos fazer com isso?”. Vamos preparar um espetáculo, essa foi a ideia. Tinha, na época, uma grande casa de eventos e casamentos chamada “Ricardo Cardoso”, com uma área enorme ali. “Vamos fechar o Ricardo Cardoso e fazer um grande show”, eu disse. Para começar já por cima e com a proposta de conseguir recursos para gravar um CD. Trouxemos na época o Miele para ser nosso mestre de cerimônia, músicos do Rio, músicos de Macaé. Ensaiamos em estúdio e eu consegui, com apoio de amigos, vender todas as mesas que tinham sido dispostas no espaço já com buffet. As pessoas chegavam e já eram atendidas pelos garçons com bebidas e comidas. Rolou um show magnífico. Só que no final, o recurso não deu para a gente fazer o CD. Foi assim que aconteceu.

Como você vê o atual momento da música brasileira? Os artistas iniciantes têm tido apoio para divulgação de seus trabalhos?

De 2011, 2012 uma vez por ano eu buscava fazer um show “Sambaleante”. Consegui fazer no Sesi com risco de bilheteria, porque o artista iniciante, neste cenário, se estiver trabalhando com alguma coisa de qualidade não tem espaço na mídia. A mídia, hoje em dia, é conduzida ou tem uma determinação “o estilo agora é esse, é só o que você vai ouvir na rádio, não importa a qualidade. Então você vai ouvir o tempo todo”. Então eu viajo fora dessa linha. Tenho que fazer minhas apresentações de forma alternativa. Porque eu não tenho obtido tanto apoio. Eu tenho tido apoio da mídia escrita (jornais). Mas assim, você ter seu trabalho ser tocado na rádio é extremamente difícil, hoje em dia. Ainda assim não desisto da ideia porque eu acho que daqui a pouco vamos achar os caminhos alternativos que existem, eu tenho buscado alguns, como a rádio web, para oferecer o meu produto. Já obtive êxito em alguns casos e tenho buscado outros. Não fico esperando a mídia formal vir buscar, já tive seu apoio, no caso aqui em Macaé, muito bom apoio da rádio 95, da rádio 101 e eles abriram o programa para discutir o meu trabalho num momento que estava lá. Mas não há uma continuidade, meu trabalho não entra na programação da rádio, por enquanto, mas é natural porque a rádio tem seus compromissos, tem a sua agenda, sua lista de música, seu padrão de eventos. Volta e meia sou convidado para bater um papo lá. Quando eu faço um show, os microfones dessas rádios estão sempre abertos para que eu vá lá divulgar. Então no meu caso que estou buscando esse caminho alternativo, eu tenho conseguido esse acesso na mídia, mas eu acho ainda muito difícil para um profissional que esteja iniciando, que esteja buscando alcançar esse caminho na vida, acho muito difícil.

Em Macaé você participa de rodas de samba? Acredita que por aqui temos incentivo ao músico local? Qual o maior desafio deles?

Tem espaço legal para tocar, esse é o maior desafio para qualquer músico e que ele tenha retorno com isso. Normalmente os instrumentos são caros e às vezes o músico quer investir num instrumento de melhor qualidade, mas, às vezes, o que se oferece em determinados lugares para se tocar é o que inviabiliza o trabalho.

Aqui em Macaé eu conheço várias rodas de samba e volta e meia eu apareço, mesmo que seja “aquela roda de samba de um grupo de pagode”, vou lá. Embora não seja meu estilo, vou lá porque eu gosto de ouvir, gosto de saber o que a turma está fazendo. Vou no Samba, Choro e Poesia. Quando eu estava com tempo ia no Bico da Coruja, às quartas-feiras ver um chorinho rolando lá. A turma que eu canto, lá do pessoal do Bico (da Coruja). Eu gosto de estar presente nessas expressões musicais.

Uma coisa que tenho achado interessante são esses eventos como teve um aqui na praia de Festival de Hambúrguer e Food Truck e tal, em determinadas épocas a música padrão é o samba, é o choro, aí já fui convidado várias vezes para tocar, não só eu, mas outros músicos também. Então a gente faz uma grande roda, tem um grupo base aqui de Macaé e 2 ou 3 cantores que vão se revezando. Fizemos um show muito bonito aqui no Mercado de peixe, que teve uma feira de frutos do mar e foram 2 dias, nós tocamos num sábado e depois um outro grupo tocou no domingo. As pessoas querem sair de casa para esses eventos. No sábado à noite (09/06) estava extremamente lotado de gente assistindo, comendo. Então a cidade precisa ter isso (festivais, eventos).

Não tem fomento do Governo Municipal, não tem. Infelizmente não tem, poderia ter um apoio grandioso para a cultura local para a expressão, não somente na área do samba, mas também em outras áreas para que isso se levantasse mais. Mas é difícil.

Poxa, teve um show de samba há pouco tempo de uma amiga cantora, Andreia, foi sexta-feira (08/06) no Teatro Municipal não pude ir pois estava na faculdade dando aula, então, meu período disponível para ir aos sambas neste semestre tem ficado bem curto.

Você lançou o projeto "Sambaleante" em outubro 2016, como surgiu a ideia para esse projeto?

Esse projeto veio embrionário por diversos anos. Ano a ano, pelo menos uma vez por ano, eu colocava o projeto na “rua” para ver se ele alçava voo, mas eu analisava: “eu não tenho recursos para colocar o projeto em campo. Eu preciso ter recursos para pagar o projeto, pagar os músicos e chegar onde eu quero”. Aí foram passando 2013, 2014, 2015... quando chegou em 2016, eu falei: “tenho que mudar a estratégia”. Eu comecei a estudar diversas formas de incentivo à cultura. Você pode tentar lei do governo, lei Rouanet, lei disso, lei daquilo, mas nada disso eu teria retorno imediato. O que eu descobri? Existe, hoje, no mercado uma sistemática chamada “crowdfunding”, no fundo é um termo inglês que quer dizer: ação entre amigos. Quando você quer produzir um disco, um livro, um filme, você fala com seus amigos que, o tempo todo, o mais interessante é isso, os meus amigos diziam: “poxa esse cadê seu trabalho registrado num disco?”. Eu vou fazer a pergunta reversa: “Você compra meu disco antecipado? Você me paga X que daqui um ano eu vou te entregar esse disco”. Eu tinha a opção de aportar o meu projeto numa determinada plataforma, só que essa plataforma cobrava uma variável entre 10 a 15 ou 20% do valor que você iria arrecadar e te dava 2 meses para arrecadar tudo (valor total). Quanto é que você precisa? 30 mil? Beleza, então eu quero 20% ou 15% desse valor, mas você tem que arrecadar 30 mil em 2 meses. Para mim não dá, como vocês bem sabem, meu tempo é escasso para buscar isso. Trabalho durante o dia e dou aula à noite, então não tinha como eu pensar em arrecadar isso em 2 meses. E outra coisa, esse dinheiro ia para uma conta deles e só quando eu atingisse o objetivo, o dinheiro iria para a minha conta. Pessoas que eu nunca vi. E se eu adaptar essa história? Eu colocar a minha conta como o local de depósito e pedir a vocês que vão me apoiar, que faça um depósito identificado e me mande o recibo, e assim fiz uma lista de amigos, de repente, começou a surgir amigos, eu acionei amigos de Macaé, do Rio, do Espírito Santo, da Bahia... E aí começou a lembrar de gente, escreve, escreve, escreve... não digo todos, mas a grande maioria dizia: “Cara, eu compro o seu projeto”. Só que ficar somente no disco era pouco, um amigo se juntou a mim e a minha esposa/produtora e falou assim: “Olha só, eu vou fazer umas cervejas artesanais e cada cerveja, seja IPA ou outro estilo diferente (ele faz 4 tipos) e vou colocar o nome de cada cerveja dessas de uma das suas músicas do disco”. Eu disse: “Opa! Aí o negócio muda de figura”. Então eu comecei a ser assistente de cervejeiro e fazer cerveja na casa dele aos finais de semanas, arrumar garrafa e a minha esposa começou a pensar no rótulo, pois tinha que ter a qualificação da cerveja e o nome da música. Por exemplo, “Musa” era o nome de uma cerveja, “Pura tentação” outra cerveja... são músicas que estão no disco e assim foi. Mas pera lá, se é uma cerveja, precisa de uma taça bonita para você beber uma cerveja artesanal dessas, de qualidade. Começamos a investigar a quem fazia taça e descobrimos uma fábrica em São Paulo e mandamos fazer, se não me engano, 4 ou 5 modelos de taças. Todas elas escritas “Sambaleante”. Aí montamos um kit. Eu dizia para a pessoa: Você pode comprar só o disco, pode comprar o disco e uma taça, ou o disco, uma taça e uma cerveja, que é o nosso kit máster. “Eu quero um disco, uma taça e uma cerveja e quero mais um que eu vou dar para um amigo”. E assim foi, vende, vende, vende, entra dinheiro em conta e eu controlando tudo no papel para não me perder. Quando eu achei que já tinha um valor suficiente para ‘startar’ o projeto, que foi em torno de outubro de 2016, nisso eu já vinha pagando os arranjadores para fazer os arranjos das músicas, agora precisamos arregimentar os músicos e ir para estúdio. O estúdio foi no Rio de Janeiro, uma parte dele, a outra parte foi aqui no estúdio do Bruno Py no Mar do Norte (Macaé) e tirei férias para poder fazer isso. Comecei a ir para o Rio gravar nesses 15 dias de férias e começo a acompanhar estúdio de manhã à noite. O disco foi gravado. Aí busca produção de capa de encarte, aí para prensar precisava ter toda uma documentação legal, fomos atrás dessa documentação e do registro das músicas. Quando chegou próximo ao carnaval, em março de 2017, chegaram as caixas lá em casa, as mil cópias do disco. Então comecei a entregar às pessoas o disco. “Está aqui, muito obrigado”. Aí começa a divulgar o trabalho na rádio e eu penso que é a hora de fazer o show de lançamento. Fizemos o show de lançamento do disco no Teatro do Sesi Macaé, que sempre nos apoiou bastante. Corri o risco de bilheteria, mesmo assim vendemos bastante, a ponto de pagar os músicos que vieram ao show.

O pessoal do Rio começou a “brigar”: “Cadê esse show que não vem para o Rio, só ouço na internet, só vejo imagens e não vem para o Rio”. Batalhei e consegui levar o show em novembro (2017) para o Rio, no Teatro Rival (Petrobrás) e claro, pagando o risco de bilheteria. Fizemos um showzaço lá, casa cheia.

Esse ano já fiz show no Vintage (Macaé), um show mais reduzido, mas mesclando músicas minhas com músicas mais conhecidas e agora a gente pensa em Vitória. Vamos devagarzinho, estamos indo.

FOTO: Divulgação

Quais os seus planos para o futuro? Mais algum projeto saindo do forno?

Nessa vontade de compor, a gente compôs muita coisa. A minha ideia é apresentar essas músicas para outros intérpretes, ou outras intérpretes que estejam aí gravando. Eu tenho acompanhado, tem muita gente nova apresentando material de excelente qualidade em termos de rádios alternativas e eu quero estar inserido nisso.

Vitória é uma ideia, pois tenho amigos pedindo para ir para lá, mas aí, agora é uma questão de estudar custos. Saber quantas pessoas vão para Vitória, eu posso contar com os amigos da H2O de lá, então o custo já fica mais baixo em termos de estadia, já que eles moram lá. Passar o trabalho para eles. Teve um amigo (Raimundo) que gravou Luz de Vela como cavaquinhista, ele era do H2O também. Eu fiz questão de mandar o disco para Vitória. Na época da gravação eu aluguei um estúdio lá, ele coordenou a gravação e depois me mandou a fita gravada para se juntar a esse trabalho (Sambaleante).

O trabalho foi feito com carinho e apoio de muita gente. Eu continuo compondo, já temos novas composições pós disco (Sambaleante) e não penso, no momento, em gravar um novo disco, mas penso em continuar com esse processo de criação, que eu acho que está muito gratificante. Tenho sentido falta, nesse semestre, porque meus horários estão espremidos e estão penalizando meu tempo que poderia estar brincando para trazer inspiração e compor. Mas não tem problema e acho até que o tempo sem compor te ajuda o período que você for compor.

Mandei um samba, uma melodia para o Ivan e essa é inédita: “Quem sabe onde nasce o samba, não é, diz o coração. Na alma de quem é bamba sem respeitar a tradição. Vou fazer outro som, samba renovado então...”. Na realidade é uma ideia que eu tinha de mostrar que meu samba está buscando uma renovação e que a gente tem visto que o samba, como tudo na vida, vai se modificando. Então o Ivan escreveu uma letra bacana, que ainda não sei de cor não, só dei uma palhinha nesse sentido.


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A ENFOCA é um projeto realizado pelos alunos das disciplinas de Laboratório de Jornalismo 1, 2 e 3, da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora - Macaé/RJ. Sua missão é fazer da prática jornalística uma prestação de serviço ao interesse público em Macaé e região, através da checagem de fatos (fact-checking), da cobertura cotidiana e de grandes reportagens.

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